PM acusado de matar a esposa com dois tiros a por júri popular 12 anos depois
Filho da vítima tinha 7 anos e presenciou o assassinato: “Parece que o caixão ainda está aberto”
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Doze anos depois de ser acusado de matar a esposa com dois tiros no rosto, o policial militar da reserva Dário Ângelo Lucas da Silva, de 51 anos, começou a ser julgado por um júri popular nesta quinta-feira (12), no Fórum de Paulista, Região Metropolitana do Recife.
A vítima, Yana Luiza Moura de Andrade, de 30 anos, foi morta em janeiro de 2013, dentro da casa da sogra, enquanto os filhos dormiam no cômodo ao lado.
Réu confesso, Dário ou apenas três meses preso e saiu com habeas corpus. Desde então, levou uma vida normal: foi promovido a major da PM, concluiu o curso de Direito e hoje está inscrito como advogado na OAB-PE. É major da reserva, com todos os benefícios.
"É como se o caixão estivesse aberto", diz filho mais novo

A primeira sessão do júri foi marcada por comoção, com a família presente. A defesa tentou adiar o julgamento porque várias testemunhas de defesa não compareceram e uma delas faleceu, mas o pedido não foi acatado pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Paulista.
O filho mais novo de Yana, que tinha 7 anos na época do crime e hoje, 19, busca por justiça. Ele e o irmão, na época com 9 anos, estavam dormindo quando a mãe se despediu e entrou no quarto para conversar com o então companheiro. Horas depois, ela estava morta.
“Ela falou que ia conversar com ele e depois dormir. No dia seguinte, acordei em outra casa, sem saber o que tinha acontecido”, contou. O jovem disse que só com o tempo entendeu a dimensão da perda. “Eu era muito novo, mas sabia que minha vida tinha mudado. Nunca mais ia ter ela de volta”, contou Arthur Moura.
O momento mais forte do depoimento veio ao falar sobre a expectativa por justiça: “Parece que o caixão ainda está aberto. Está tudo voltando agora. A gente quer, finalmente, fechar esse ciclo.”
Relacionamento marcado por traição e violência
Yana havia decidido encerrar o relacionamento após um histórico de traições e episódios de violência. Segundo informações da família, Dário chegou a agredir uma amiga da sogra após uma investida rejeitada. Já Yana foi morta dentro da casa da mãe dele, sem chance de defesa.
Tia da vítima, Rosana Moura acompanhou o julgamento e reforçou a dor que a família enfrenta há mais de uma década.
“Não foi só a morte da Yana. Foi um efeito dominó. Morreu meu irmão, depois mais duas irmãs. Minha mãe hoje tem Alzheimer por tanto sofrimento. Doze anos esperando justiça.”
"Ele foi promovido e a a gente enterrando gente", desabafou tia

Ela criticou o fato de o réu ter levado uma vida normal. “Ele ficou três meses preso, foi promovido, tirou OAB, hoje é advogado. E nós aqui, enterrando gente e esperando justiça", contou Rosana.
A promotora Liana Menezes, que atua no caso, explicou que, apesar de se enquadrar como feminicídio, o réu responde por homicídio qualificado, porque o crime ocorreu em 2013, antes da tipificação específica da lei. “As provas são claras quanto à autoria, à materialidade e às qualificadoras”, afirmou.
12 anos antes
Até agora, os advogados de Dário não falaram com a imprensa. A reportagem acompanha o andamento do júri.
Em 2013, no ano em que o major foi acusado de matar a esposa, a Secretaria de Defesa Social registrou 33.080 crimes de violência doméstica. Somente de janeiro a maio deste ano, o estado contabilizou 23.228 casos de violência doméstica.
Cerca de 91 mulheres foram vítimas de violência doméstica por dia há 12 anos, segundo os registros da SDS.
Em média, 154 mulheres sofreram violência doméstica por dia em Pernambuco nos cinco primeiros meses de 2025. Não há dados de feminicídio de 2013, porque a lei não existia. Já este ano, de janeiro a abril, 35 foram mortas simplesmente por serem mulheres.
Veja mais: Por que os homens matam as mulheres que dizem amar?
Veja a matéria de Carlos Simões na íntegra no JT1, apresentado por Artur Tigre a partir dos 4minutos e 7 segundos. Clica abaixo e já vai direto.
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